quarta-feira, 24 de junho de 2009

Panorama del porvenir - Galeria Arte Sonado

Exposição colectiva, 27 de Junho a 22 Julho, La Granja de San Ildefonso (Segóvia)
Comissário: José Maria Parreño



Rui Macedo - Invisible link (after LaTour), 2009, óleo s/tela, políptico instalado segundo as relações de proporção do original apropriado




Georges de La Tour - The Lamentation over St. Sebastian, 1645, óleo s/tela, 157 × 130cm. Staatliche Museen Preussischer Kulturbesitz, Berlim

Immagini speculare - Galeria Reflexus Arte Contemporânea

Exposição individual, 6 de junho a 27 de Junho, Porto


Immagini speculare - Vista de Interior, 2009, óleo s/tela, 155x155cm



Immagini speculare - Framed Landscape, 2009, óleo s/tela, 110x136cm



Vista da exposição

Immagini speculare - Instalação de pintura de Rui Macedo


Rui Macedo apresenta na Galeria Reflexus uma instalação pictórica composta por três pinturas a óleo sobre tela. Partindo dos géneros clássicos pictóricos e articulando-os com o conceito literário mise en abîme, o pintor propõe uma Natureza-morta intitulada Framed Still-life e uma paisagem, Framed Landscape, destacadas pelo tromp l´oeil de uma moldura preta, e ainda uma Cena de Interior onde as pinturas emolduradas (re)aparecem num contexto íntimo reequacionando o espaço do observador ao abrir o jogo do reconhecimento.
Porque toda a pintura exibe um ponto de vista seleccionado, a investigação ao redor da moldura implica questões de ordem conceptual.
Consequência de um close up do espaço público para o espaço privado, do olhar contemplativo que transforma a natureza em paisagem para a retracção do campo visual que se dá no espaço circunscrito da casa habitada, aqui, de forma inquietante, a Cena de Interior mostra-se potencialmente expansiva, uma vez que não há uma moldura pintada a sublinhar os limites da tela e, justamente por isso, é possível projectar o seu desenvolvimento para lá desse limite. Verifica-se exactamente o oposto com Framed Landscape onde a moldura acentua os limites da pintura e coexiste com a presença de uma mira fotográfica colocada no centro geométrico do rectângulo pintado para simular um olhar explicitamente mediado. Um infinito exercício de enquadramentos ao qual o olhar do espectador não escapa (nem deseja escapar) é, neste caso, igualmente metáfora para o conceito mise en abîme, onde o eternamente repetido é reconhecido na/pela repetição e nessa repetição se fundamenta o sentido da instalação.

Margarida Prieto
Lisboa, 04 de Junho de 2009

(A)TOPOS - Galeria Gomes Alves

Exposição individual, 22 de Maio a 1 de Julho, Guimarães



(A)TOPOS – Com fragmentos de «Deposição de Cristo», 1549, de Bronzino,
2009, 140x175cm, óleo s/ tela


Vista parcial da exposição

(A)TOPOS – fora de cena: Gelo + (A)TOPOS – fora de cena: Fogo, 2009, 50x50cm + 50x45cm (díptico), óleo s/ tela



(A)TOPOS – três vistas com leão,
2009, dimensões variáveis, óleo s/ tela





(A)TOPOS para uma (a)topografia da instalação pictórica


Topos é o elemento grego na composição das palavras que exprime a ideia de «lugar». O «a» privativo antes da palavra vem retirar-lhe (ou negar-lhe) esse sentido primeiro ficando atopos como o «não-lugar» ou «sem lugar».

O conjunto de pinturas apresentado por Rui Macedo na galeria Gomes Alves 1 é exemplo da investigação plástica que o artista tem vindo a abordar sistematicamente e que parte de conceitos literários como o mise-en-abyme e/ou a referência à história da arte, verificáveis pela citação a outros pintores e outras obras nomeadamente através de títulos como: Retrato de um Bebé, Início do Império, Palazzo Capitolino, Roma, Com fragmentos de «Deposição de Cristo», 1549, de Bronzino ou A partir de um fragmento de «S Jerónimo a ler» de Georges de La Tour, onde se confirma o reconhecimento imagético.
Se as pinturas se referenciam uma às outras através dos seus ecos na história da arte, essa referência também se deve à repetição de elementos que passam de tela para tela. Como se não tivessem um «lugar» próprio e definitivo, cada um desses elementos, a cada momento de repetição, constrói (para si) um «novo lugar», abre-se como possibilidade de existir mais uma vez e em autonomia. Esta opção, que o pintor sublinha por uma montagem que potencia o reconhecimento em abismo, só é eficaz pela colocação exacta, meticulosa e estratégica de cada pintura nas duas salas da Galeria. O «lugar» é, neste caso, absolutamente estruturador justamente porque nele se encena a instalação. Concebida à priori como um conjunto relacional equacionado segundo uma montagem de cariz topográfico, a apresentação exibe a escolha cirúrgica desse «lugar» pensado enquanto ponto cartesiano.
Contudo, em Pintura (a)topos enfatiza-se pela representação, ou seja, pelo conteúdo de cada pintura e dos conceitos que subjazem à sua elaboração. Qual o «lugar» deste ou de outro elementos? Qual o «lugar» desta ou da outra pintura? Que posição ocupam na cronologia histórica?
Atopos significou, numa primeira instância, aquilo ou aquele que não tem lugar fixo, que resiste à classificação. Neste sentido, e evitando questões de ordem composicional, todo o elemento que se repete nestas pinturas, no momento em que, isolado do(s) seu(s) contexto(s) imagético(s), se torna disponível para o pintor, nesse momento e apenas então, se pode classificar como atopos. É necessário, contudo, pensar a pintura como uma permanente colagem onde o elemento plástico, ainda por representar, tem a elasticidade imprescindível para se tornar representação pictórica.
(A)topos pensado enquanto conceito operacional duplo confere um sentido espantoso a estes três diferentes núcleos de pintura: os elementos destacados são repetidos apenas aparentemente. Contextualizados ou em protagonismo dão-se ao olhar do espectador sugerindo um percurso de visitação. Mas a leitura contrária é igualmente uma possibilidade na medida em que o reconhecimento se faz mediante uma segunda imagem (que duplica e simultaneamente modifica toda ou parte de outra já conhecida, vista imediatamente antes). Sem perder a identidade o representado adquire, em cada uma das pinturas, contornos próprios e individualizantes. Esta autonomia relacional permite considerar cada pintura de forma autónoma, faculta as relações imagéticas (nomeadamente com a história da arte) e garante afinidade sem ditar sequências. O «lugar» de cada elemento só lhe é atribuído pela sua representação, quando passa a ter uma existência pela pintura. É a pintura que lhe garante esse topos representacional.
Neste contexto de (a)topologias, a representação da moldura é particularmente pertinente pois o espaço que a ela define tem características únicas que estão na génese da obra de arte. A moldura é simultaneamente topos e atopos. É atopos como fronteira ou zona neutra entre duas áreas cuja estrutura de separação é o quadrado. É topos porque abre, no sentido da instauração, o lugar sagrado.
Margarida Prieto
Lisboa, 21 de Maio de 2009