segunda-feira, 10 de maio de 2010

Puzzle this - Fundação D. Luís I

Exposição Individual, de 30 de Abril a 20 de Junho, Centro Cultural de Cascais, Cascais.
Puzzle this divide-se em To enfold e To enlace.
To enfold
(sobre o exercício de dispor e limitar)

Fiat lux, 2010, óleo s/tela, 50x30cm

«Pintura Janela», 2010, óleo s/tela 140x175cm.



A partir de S. Tomé, o incrédulo de Caravaggio, 2010, óleo s/tela, 140x175cm.



A partir de Paisagem com S. João em Patmos de Poussin (1640), 2010, óleo s/tela, 140x175cm.

Vista parcial de To enfold

Vista parcial de To enfold

To enlace
(sobre o exercício de Mise en abîme)


Sobre o exercício de Mise en abîme #1, 2010, óleo s/tela, 155x155cm.





Sobre o exercício de Mise en abîme #5, 2010, óleo s/tela, 110x136cm.




Sobre o exercício de Mise en abîme #7, 2010, óleo s/tela, 140x175cm.







Vista parcial de To enlace





























Interlink - Museu recién pintado - Galeria Arte Sonado



Exposição Individual, 10 de Abril a 3 Junho, La Granja de San Ildefonso (Segóvia)
Comissário: José Maria Parreño






After 16th Century Landscape engraving by Hans Bol, 2010, óleo s/tela, 120x150cm.






Zoom in #1, 2010, oil on canvas, 60x73cm.



After Joachim Patinir, 2010, óleo s/tela, 120x150cm.




Zoom in #2, 2010, oil on canvas, 52x60cm.






After a landscape by Jan Both, 2010, óleo s/tela, 120x150cm.







Zoom in #3, 2010, oil on canvas, 60x73cm







Zoom in #4, 2010, oil on canvas, 62x62cm




Interlink

Neste pequeno texto tentarei esboçar as premissas do meu pensamento pictórico para a criação da exposição Interlink. As sete pinturas que a constituem recorrem à citação, técnica de apropriação que tem sido particularmente pertinente no meu trabalho pictórico, pois permite-me questionar a pintura enquanto campo poiético.
A citação como regime convoca, neste caso, três pinturas de diferentes tempos da história da arte e permite-me, com elas, inventar outras pinturas neste tempo, neste presente feito de anamnese. Trata-se de um trabalho de retorno, de superação da distância pela apropriação de uma herança a refigurar. A anamnese, como técnica de convocação, traz o passado para o presente, pela reunião de fragmentos de memória de obras passadas que criam, assim, o seu próprio tempo. É o «espírito do tempo» que eu quero evocar ao escolher determinadas pinturas. É a partir deste «espírito do tempo» que se homogeneíza histórica e culturalmente um campo de criatividade e os seus produtos enquanto representação de uma época particular. A coerência evidente que é a permanência de uma problemática idêntica e obstinada, obsessão de uma mesma interrogação, métodos e teorias, dentro da variedade e das variações dessa formulação, que se modifica ou metamorfoseia, se aperfeiçoa e afina em contacto com outras obras, conceitos e procedimentos descritivos dentro de um mesmo tempo, trespassa, pela citação, para dentro da minha pintura, onde re-equaciono aquele espírito-de-outro-tempo com o espírito-deste-tempo, que é também o meu.
As três pinturas de maiores dimensões, After 16th Century Landscape engraving by Hans Bol, After a landscape by Jan Both e After Joachim Patinir foram pensadas e executadas a partir de outras três, provenientes da história da pintura e cujos autores são referenciados nos meus títulos (forma de legitimar esta apropriação e fazer os devidos reenvios autorais). A escolha destas pinturas em particular, deve-se também ao meu interesse pela encenação de «um longe» que, nas pinturas citadas é plano de fundo para a representação de três situações distintas: o divino pagão da cena mitológica de Hans Bol; a representação do divino cristão de Joachim Patinir; e uma paisagem de Jan Both. Estas minhas três pinturas resultam de omissões na citação da obra de referência, sendo a mais radical a partir da gravura de Hans Bol, onde apenas re-representei as árvores, mantendo a sua disposição original. (Digo «omissões» e não «apagamentos» pois na ausência destas figuras representei o que supostamente estaria no plano por trás delas). Porque esta gravura tem o seu registo na grafia, inevitavelmente fiz uma alteração desse registo para dentro da ordem do pictural: o que era um desenho foi modificado em pintura. Esta transposição levantou um campo de resistência ao reconhecimento da imagem citada. Esta problematização do reconhecimento foi dilatada pela introdução de pedras a ocupar todos os planos sendo que, no primeiro, ainda representei insectos à escala 1:1 para abrir, por ampliação, a pintura em direcção ao espectador.
Na cena de A virgem com o menino de Joachim Patinir aproprio-me do cenário quase na íntegra, sendo a excepção os elementos arquitectónicos alusivos a uma figuração bíblica, como o templo, a igreja, a aldeia. Ao primeiro plano acrescentei uma horta para introduzir, no cenário, o sentido paisagístico que é determinado pelos sentimentos de propriedade e pertença. Na pintura a partir de Jan Both, tal como na de Joaquim Patinir, apropriei-me integralmente do cenário (omissas são as presenças dos camponeses) e acrescentei uma linha de pedras ao terreno em primeiro plano. Esta linha de pedras, em certa medida, substitui o sentido humanizado figurado pelos camponeses. Ela testemunha um trânsito, uma presença anterior. Se pensarmos na pintura de Jan Both como um fotograma de um filme, a minha pintura seria o fotograma seguinte, o que é já memória de uma passagem. Faço ainda uma intervenção pictórica que resulta do meu interesse recorrente com a questão da «superfície pictórica». Neste caso, trata-se de simular, em tromp l’œil, um rasgo na pintura, para provocar a ilusão de um corte na tela, que tem, como objectivo, consciencializar o observador para a pintura como representação que encena a profundidade.
O mesmo acontece com a representação do insecto que simula estar pousado na superfície de After 16th Century Landscape engraving by Hans Bol. Neste caso, a pintura admite a sua dimensão de ecrã ou, como aconteceu no Renascimento a dimensão de pintura-janela, sendo que, agora a janela está fechada e é através da transparência de um vidro ficcional (onde pousa o insecto) que se vê a paisagem.
Zoom in #1 é um pormenor de After 16th Century Landscape engraving by Hans Bol, onde pintei o que foi acrescentado por mim sobre a pintura que citei, insistindo no exercício de mise en abîme. Este acrescento é constituído pela representação das pedras (atrás mencionadas) e um dos insectos do primeiro plano. A superfície pintada inclui a representação de uma moldura em tromp l’ œil à escala 1:1.
Em Zoom in #2 pintei um dos pormenores que omiti em After Joachim Patinir. Trata-se da construção (igreja) por cima dos rochedos, situada num dos planos intermédios. A moldura ficciona o real tanto aqui como em Zoom in #3 onde me repito num fragmento, pormenor da pintura apropriada, tal como pintei na minha apropriação que intitulei After a landscape by Jan Both. Em Zoom in #3 introduzo um sinal (uma seta) no canto inferior direito, que simula o cursor que aparece no monitor de qualquer computador. De novo o conceito de ecrã vem interferir com a superfície pictórica.
Zoom in #4 é uma pintura cuja composição vai recuperar elementos das pinturas referidas antes: o céu de After a landscape by Jan Both, os rochedos e as árvores de After Joachim Patinir e as pedras de After 16th Century Landscape engraving by Hans Bol. Trata-se de uma colagem dentro do regime da citação que conjuga as acções anteriores de acrescentar, repetir e omitir. A moldura (que serviu de modelo às anteriores) é aqui real, presente como presença, e não enquanto representação pictórica.

«(…) Pintura eminentemente literária, cujo referente é já a arte: arquitectura, escultura e a própria pintura. Nesta trama de citações, a obra introduz, subtilmente, todo um questionamento sobre o lugar da representação. Ao ultrapassar-se como narrativa, é a história da própria arte que erige como enunciação, como acto de re-ligar textos, obras já enunciadas, produzidas, criando, nos interstícios da sua articulação, essa estranheza das articulação dos tempos, dos géneros e dos signos.(…)»[1]

Rui Macedo
Lisboa, 25 de Março de 2010.


[1] BABO, Maria Augusta, PINHEIRO, Jorge, Figurações ou Diálogos da pintura para a escrita, Almada, Casa da Cerca – Centro de Arte Contemporânea/Câmara Municipal de Almada. Janeiro de 1997, p.41.















Paisagem in loco - Centro Cultural Emmerico Nunes

Ema M, Rodrigo Bettencourt da Câmara, Rui Macedo e Teresa Palma Rodrigues.
Exposição colectiva, 13 de Fevereiro a 10 de Abril de 2010, Sines.




Rui Macedo, 37º 57′ 18.32” N / 8º 52′03.30” W, 2010.



Rui Macedo, 37º 57′ 18.32” N / 8º 52′03.30” W, 2010, vista da exposição.



Ema M, Casa Arrumada, 2010. Vista parcial da instalação. Óleo s/ tela e madeira. Políptico com 57 peças, dimensões variáveis de montagem (cada objecto 22x27cm)




Ema M, Casa Arrumada, 2010. Óleo s/ tela e madeira. Políptico com 57 peças, dimensões variáveis de montagem (cada objecto 22x27cm).


http://www.paisageminloco.wordpress.com/


Paisagem in loco é o título do projecto colectivo de arte contemporânea em exposição no Centro Cultural Emmerico Nunes. Ema M, Rui Macedo, Teresa Palma e Rodrigo Bettencourt da Câmara focam o seu olhar sobre Sines para apresentarem um conjunto de obras de carácter place-specific. O lugar como resultado da soma do espaço físico, da sua história e das suas vivências, é tomado como instância determinadora e determinante na produção deste projecto artístico.
A cada lugar o seu particular modo de actuação articulada: do modus operandi ao número de obras, da escala (tanto do que é representado como do que está apresentado) à técnica; tudo o que, na sua essência, a obra é e tudo o que compõe esta exposição, depende das particularidades do lugar onde se apresenta.
Neste projecto, a obra é considerada como o resultado de uma conexão de inter relacionamento transtextual com o que a rodeia, tomando como ponto de partida a história e o edifício do Centro Cultural bem como a própria cidade onde este está implantado. Também a especificidade do território alentejano se define aqui como Paisagem de referência. Os quatro artistas tomam a cidade de Sines como Astro que circunscreve e objectiva as possíveis interpretações das obras, aproximando o diálogo entre obra e lugar.

Margarida P. Prieto